Mingau de Ovo

Wednesday, January 17, 2007

Desgraça pouca é bobagem

É sabido que eu tenho carimbos e mais carimbos no meu passaporte para o inferno. Mas eu também admito que o Senhor me testa todos os momentos, para ver se eu de repente posso me redimir e pedir um espacinho no Céu.

Há séculos estou tentando entrar com uma ação contra a maldita leprosa Nossa Caixa, Nosso Banco, o estabelecimento bancário mais escroto do planeta. Conseguiu superar até mesmo os capitalistas do Citibank, que ao menos me criaram problemas por causa de R$ 1.700,00. Esse banquinho estadual de quinta categoria conseguiu encher o saco por causa de UM CENTAVO!

A história, bem resumida, é a seguinte: eu fechei a minha conta no banco e eles inventaram que havia um saldo negativo. Como pode haver saldo negativo de uma conta fechada? Como pode haver saldo negativo se, no dia em que eu fechei a joça da conta, eu paguei TODOS os débitos pendentes? Não contentes com isso, os malditos pegaram o meu "saldo negativo" e incluíram o meu nome no sistema de proteção ao crédito.

Bem... entrei no fórum munida dos documentos e da papelada toda. Subo até o primeiro andar de um prédio velho e nojento, que deve funcionar como verdadeiro "point" de baladas para baratas e ratos. Um balcão podre e poeirento. Atrás, pessoas com caras de idiotas andam por estantes de metais do tipo "Faça você mesmo", onde se acumulam toneladas e toneladas de papéis velhos, um oásis para ácaros, traças e outros seres da cadeia alimentar que se abastecem de mofo. Lâmpadas penduradas. E uma fila do cacete de malocas.

Ao menos eu tive a opção de esperar aquela trolha sentada. Pensei em Cristo, nosso Senhor. Não adiantou. Em dois minutos, uma senhora sentou do meu lado e começou a fazer tudo o que pobre mais gosta nesse mundo: chegar pra um estranho e contar todas as desgraças da sua vida. Na verdade, isso explica toda a sociologia das filas, que o companheiro Tio Xavier explicou muito bem em seu post mais recente.

A tal senhora era muito simpática, até, e dona de um bondoso coração. Mas a história dela estava me dando vontade de vomitar. Eu só pensava "chega logo minha vez! chega logo minha veeeeeez!", mas não adiantava. Ninguém se movia. E lá ia ela contando os detalhes grotescos.

Ela mora num bairro tipo Vila Cacetilda, que fica lá pras bandas do Grajaú. Pra quem não conhece, fica depois que a PQP acabou e começou o Raio que os Parta. O que, por si só, já é uma merda. Não bastasse, a rua dela fica numa parte baixa. Na parte alta, mora um pedreiro (segundo ela) que ficou com preguiça de construir uma fossa decente e resolveu colocar a saída da fossa improvisada bem na frente da casa da coitada. E toda vez que o pessoal da casa lá de cima resolve abrir a fossa, a casa da pobre mulher (dona Francisca, agora lembrei!) fica fedendo a merda de maneira insuportável, de forma que ela não consegue comer, nem tomar café, nem dormir, e ainda vomita três vezes ao dia.

Não bastasse essa demonstração de higiene, num bairro em que a Sabesp ainda não levou o sistema de tratamento de esgoto, o pedreiro ainda acumula toneladas de lixo. E isso significa ratazanas e milhares de moscas, doenças e outros brindes. A netinha da dona Francisca, que há pouco completou 1 aninho, outro dia foi flagrada tentando fazer cafuné num "ratinho", pensando tratar-se de um animal doméstico.

Quando eu já estava tentando ver se tinha uma janela para tomar um ar e não vomitar, a dona Francisca passa para o momento dramático: a ceia de Natal. Toda a família veio de Ribeirão Pires para a casa dela celebrar o nascimento do Menino Jesus. E ela passou dois dias cozinhando gostosuras. Na noite de Natal, quando todos comentavam o cheirinho bom que vinha do forno - o chester especial e outras guloseimas -, o pedreiro da casa de cima resolveu disparar a fossa várias e várias vezes. O cheiro de esgoto foi tamanho que toda a família debandou, alguns vomitaram, e ninguém tocou nos pratos preparados com todo o carinho pela anfitriã. Foram todos embora com nojo, e alguns ainda pensaram que a montanha de esterco humano vinha da casa dela. "Eles pensaram que eu era uma porca", choramingava a dona Francisca.

Ou seja, além de vontade de vomitar, eu estava com lágrimas nos olhos. Aí ela me conta que já foi na Prefeitura, na Sabesp, no cacete a quatro, e que ninguém afoga aquele maldito pedreiro dentro de sua própria fossa improvisada. E ela ia tentar o "fóru", porque ela "sabia seus dirêitu".

Nessas dela me contar todas as 600 histórias envolvendo esgoto, merda, vômito e desgraças, foi chegando a minha vez. Eu já estava azul e cambaleando em cima do banco, pensando que ou ela parava de me falar aquelas atrocidades ou eu teria que pular pela janela. Foi quando avistei um papel ao longe. Um papel amarelado com algo escrito. Em cima, rabiscado com caneta, um aviso: ATENÇÃO.

Para me livrar das escatologias da dona Francisca, fui ler o papel. Deve ter sido impresso em 1961. Quase tudo apagado e podre. Mas tudo bem, deu para ver com riquezas de detalhes os tipos de ação que NÃO podem ser protocoladas no Juizado Especial Cível, a seguir:

- ações trabalhistas (quando você quer colocá a firma no pau);
- divórcios ou anulação de casamento (quando você pega o filho da puta com a sua melhor amiga na cama);
- separação de sociedade (quando você descobre que cunhado não serve pra ser sócio, porque começa com CU);
- PROCESSOS CONTRA A CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, BEM COMO ÓRGÃOS PÚBLICOS FEDERAIS, ESTADUAIS E MUNICIPAIS. Para este caso, você, caro idiota, deve ir à Vara Federal ou da Fazenda, com o seu adEvogadu particular ou bancado pelo Estado. E foda-se!

Eu aguentei TUDO AQUILO para descobrir que vou ter que refazer o cazzo do texto e vou ter que ir a OUTRO fórum no centro da cidade, onde deve ter 2309842304 malocas, e aguentar outra fila.

Eu fiquei tão puta que fui embora e nem dei tchau pra dona Francisca. Mas eu espero que alguém mande um míssil na casa do pedreiro porco!

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